quinta-feira, 3 de agosto de 2017

SÉRIE ESPELHO


Os  desenhos apresentados aqui são os quatro elementos que compõe uma micro série produzida entre maio e junho de 2017, batizada de Série Espelho, tal título em muito se deve ao período em que ela foi produzida, um momento  de certa adversidade  que promoveu profunda reflexão, onde  me propus a ficar diante do “espelho da alma”, na busca de uma imagem interior mais profunda e essencial, tanto no ofício de artista quanto como no ser humano, consequentemente acabei manifestando-a em criações visuais, bem como investigando a miríade de  repercussões  que tal busca provocou (e pode vir a provocar) em minha vida cotidiana, quem sabe assim criando um ciclo virtuoso de retroalimentação entre  vida e arte.

Um dos pontos cruciais  desta busca trata-se  de tentar enxergar a vida dentro de sua profunda e sutil linguagem simbólica, ainda que o processo seja altamente subjetivo tento  demonstra-lo objetivamente  nestes desenhos,  para tanto me valho de uma linguagem visual simples e direta, monocromática, que tenta equilibrar elementos abstratos e figurativos e principalmente recorre da utilização de diversos elementos simbólicos,  seja individualmente ou em grupo.
A simplicidade das obras se justifica a medida que facilita a interação com os mais diversos públicos, pois disposta em suporte comuns (como papel impresso entre outros...) soam mais familiares que  uma complexa instalação cheia de parafernálias eletrônicas por exemplo, medida que creio ser importante também para não distrair os sentidos e facilitar  a compreensão dos elementos simbólicos mais sutis e  suas narrativas engendradas nos desenhos.


Ainda que  o resultado final das obras se aproxime de muitas linguagens contemporâneas, creio ser fácil perceber o referencial  histórico que as ampara, partindo  do Art’Nouveau e passando pelo Simbolismo , Surrealismo, Renascimento  e por fim  tentando tocar as fontes primevas e essenciais das tradições clássicas (Grécia , Roma, Egito e Índia védica), ainda que neste momento meu processo criativo, e consequentemente minhas obras, não alcancem a primazia de seus predecessores referenciais creio ser de grande valia a busca de construir uma linguagem contemporânea que reaproxime o público de elementos simbólicos mais profundos, cumprindo assim um papel de certa forma pedagógico de refinar o olhar do expectador aos poucos, provocando a reflexão pelo diálogo e não pelo impacto (visual).


Outro ponto interessante, que já usei com relativo sucesso em séries anteriores, foi a criação de padrões modulares que se encaixam a partir de um único elemento replicado ou elementos diversos entre si,  nesta  série o desenho “Gráfico Evolutivo” apresenta tal característica, o que permite uma composição com incontáveis elementos, onde a restrição é somente o espaço disponível. O emprego de padrões como este permite que o mesmo desenho seja aplicado  como arte ornamental por exemplo, através de azulejos, faixas decorativas e papéis de parede entre outros, esta possibilidade  faz com que estes desenhos se aproximem do conceito de “arte total”, muito explorado pelo movimento Art’Nouveau (entre outros), onde a interação  com arte transcende o objeto, podendo assim se fazer presente na arquitetura e no design de artefatos cotidianos, considerados como meramente utilitários ou decorativos. Tal estratégia é muito bem vista de minha parte, pois combate o caráter segregacionista que arte contemporânea vem tomando, associando a qualidade da expressão artística  à complexidade (ou bizarrice) da técnica e/ou suporte  utilizados, confinando  a arte às galerias e museus específicos, geralmente vistos pelo senso comum como um lugar para “iniciados”, intelectuais  e acadêmicos “profundamente versados”, nesta ou naquela categoria.



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