A mão, o mundo e a mudança.
Sinto
que interferimos no espaço que nos cerca tanto quanto ele interfere em nós, em
um ciclo de mudanças mútuas e intermináveis, sendo assim, talvez caiba a cada
individuo tornar sua relação com o meio circundante um ciclo ascendente, de
aprimoramento e evolução.
Tal
relação com o espaço é inevitável e contínua, seja com uma pegada na areia que
a onda leva ou uma muralha que divide nações, de maneira individual ou coletiva
sempre mudaremos o mundo a nossa volta. É necessário nos mantermos conscientes
deste fato e usa-lo a nosso favor, não só para uma evolução intelectual e
subjetiva mas também para aumentarmos hoje a nossas chances de sobrevivência
amanhã.
A exposição, arte e o
artista.
O
projeto A Sã – Intervenção expositiva surgiu com a finalidade de apresentar um
panorama de minha produção artística desenvolvida nos últimos seis anos,
incluindo mais de quinhentas imagens impressas, em composições que misturam
desenhos e fotografias.
Os
desenhos que formam painéis foram fortemente influenciados pela arte ornamental
do séc. XIX, muito utilizada na arquitetura eclética e neoclássica deste
período, bem como pela fluidez, abstração e organicidade do estilo Art Nouveau nos
primeiros anos do séc. XX, estes painéis e seus padrões são coroados com
fotografias de cores saturadas e luz intensa, que encerram como tema comum
recortes do cotidiano, desde frutas solitárias até o por do sol em paisagens
insólitas. Fotografias estas cridas para tentar mostrar a beleza extraordinária
que pode estar escondida nas cenas mais banais, em uma linguagem que tem como
referencia o trabalho do fotógrafo americano William Eggleston, que é
considerado o pai da fotografia artística em cores.
Mais
do que estar sustentado por “estilos” do passado quero propor uma saída para o
fazer artístico atual, onde não há mais a necessidade de se atrelar a alguns
dogmatismos ,que infelizmente ainda reinam, estar amparado por incontáveis
textos acadêmicos e ter a benção de pessoas influentes já não garantem uma boa
aparência , por vezes o desejo de aprovação a qualquer preço se manifesta em
discursos estéreis e esquizofrênicos.
Acima
de tudo quero oferecer uma arte acessível e possível, tal qual as artes
decorativas que se integraram a arquitetura e ao cotidiano por tantos séculos,
especialmente em espaços públicos e coletivos, sem obrigatoriamente atrelar a
arte ao mundo acadêmico ou seu restrito nicho de mercado, mostrando assim que é
possível alcançar qualidade e eficácia na arte independente.
A memória, o tempo e o espaço.
Mais
que um evento beneficente (como o nome já sugere) esta exposição se propõe uma
intervenção artística, obviamente em uma edificação que não foi criada para
abrigar esta atividade, por isso à necessidade de intervir para criar este
local de reflexão, para justamente questionar: Qual é o espaço que destinamos
ao passado, ao envelhecimento, a memória e a impermanência ?
Elementos
inseparáveis de nossa existência, que na maioria das vezes ignoramos, fingindo
não vê-los em nossos próprios espelhos.
Acredito
que a sutileza e subjetividade da arte fazem dela a linguagem universal do
inconsciente, portanto uma ferramenta eficaz para desconstruir preconceitos e
medos, como alguns que pairam sobre os asilos e abrigos em geral, ainda
considerados por muitos como um infeliz depósito de quem está à espera da
morte. Justamente para trazer luz a
estas questões que a sede da Asan – Asilo foi escolhida, onde a inserção de
arte em suas desgastadas paredes altera a relação com aquele espaço,
favorecendo olhares mais reflexivos e abertos não só para as imagens, mas
também para os idosos ali amparados, quem sabe assim trazendo belos aprendizados,
nestes novos olhares que ali podem surgir.
Só não envelhece quem já
morreu.
Quem se recusar a aprender já
está morto...
Só não percebeu!